domingo, 28 de março de 2010

As diversas teorias explicativo-causais da homossexualidade masculina e feminina e da bissexualidade

A orientação sexual refere-se à tendência de resposta erótica ou atração sexual de uma pessoa, sendo classificada como homossexual, bissexual ou heterossexual. A orientação sexual pode ser avaliada através de alguns parâmetros, como a proporção em que as fantasias sexuais se direcionam a um ou outro sexo, o sexo do(s) parceiro(s) sexual (ais) e a extensão da resposta fisiológica a estímulos sexuais de ambos os sexos. A orientação sexual consiste em três elementos: desejo, comportamento e identidade, que devem ser congruentes em um determinado indivíduo. Uma das maneiras de avaliar-se a orientação sexual de um indivíduo é pela escala de Kinsey, uma escala contínua de 7 pontos, em que o representa a heterossexualidade exclusiva , 6 representa a homossexualidade exclusiva e 3 representa uma igual quantidade de hetero e homossexualidade. A escala de Kinsey tem sido criticada por ser unidimensional e, alguns autores propõem um modelo bipolar de orientação sexual, com a atração por um sexo sendo uma dimensão e a atração pelo outro, a outra. (procurar referências desse modelo).
A bissexualidade pode referir-se a uma propensão erótica, uma identidade individual ou um padrão de comportamento individual. Ela pode ocorrer seqüencialmente (indivíduo expressa atração pelo mesmo sexo ou pelo sexo oposto em diferentes momentos da vida) ou simultaneamente (atração ou relacionamento com os dois sexos ao mesmo tempo). Alguns acreditam que a bissexualidade é um estado de transição no desenvolvimento de uma identidade gay, lésbica ou heterossexual posterior. No entanto, há um grande número de homens e mulheres que, em algum ponto de suas vidas, mantém uma identidade bissexual constante e persistente.
ORIGENS DA HOMOSSEXUALIDADE

A humanidade sempre nutriu grande interesse pela possível origem da homossexualidade. Em seu livro “O Banquete” (Symposium), Platão relata um mito criacionista sobre a origem do homem, em que os seres humanos originalmente eram redondos e tinham quatro braços, quatro pernas e uma cabeça com duas faces. Eram divididos em três sexos: homens, mulheres e andróginos (metade homem, metade mulher). Para diminuir seu poder, os deuses os partiram no meio. Os homens e mulheres derivados de andrógino passariam a vida a procurar sua metade complementar no sexo oposto. Já os derivados de homens e mulheres procurariam complementar-se com pessoas do mesmo sexo.
Na tradição judaico-cristã, proibições bíblicas contra a homossexualidade podem ser encontradas em diversos trechos e, nas sociedades modernas, a intolerância a relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, tornou-se a atitude predominante.
Historiadores pós-modernos, da tradição de Michael Foucault argumentam que a atitude rotular uma pessoa com base no seu comportamento ou identidade homossexual é um fenômeno cultural relativamente novo, que coincide com a medicalização da homossexualidade durante o século XIX.
Seja qual for a causa ou as causas da homossexualidade, pesquisá-la e entendê-la, sob diferentes prismas, ainda é um importante tópico da humanidade hoje. O esclarecimento a respeito disso, possivelmente abrirá as portas para que o homem conheça melhor a sua própria condição humana.
Modelos biológicos explicativos para a homossexualidade
Desde a emergência do conceito de orientação sexual no interior da comunidade médica ocidental, tem havido um considerável debate a respeito do que determina primariamente a homossexualidade: se são fatores biológicos ou psicossociais. Antes de descrever os dados de pesquisa a respeito da orientação sexual é importante entender que os fatores biológicos podem atuar de três formas básicas:
Modelo de efeito biológico direto: De acordo com este modelo, os fatores biológicos, como genes ou hormônios influenciariam diretamente a organização ou atividade dos circuitos cerebrais que mediam a orientação sexual. Assim, o cérebro teria uma predisposição intrínseca (constitucional) para a orientação sexual, que não poderia ser modificada pela experiência.
Modelo de efeito biológico permissivo: A biologia exerceria um papel permissivo provendo o substrato neurológico, sobre o qual a experiência formativa atuaria. Adicionalmente, fatores biológicos podem, também, delimitar estágios (janelas) de desenvolvimento em que a experiência será importante para definir uma futura orientação sexual. Este modelo sugere que uma experiência pode ter maior ou menor impacto dependendo da época em que for vivida pelo indivíduo.
Modelo de efeito biológico indireto: Segundo este modelo, os fatores biológicos não determinariam a orientação sexual em si, apenas a influenciariam através de características mais gerais, como personalidade e temperamento. Estas características gerais determinariam como o indivíduo experiência, interage e influencia o ambiente, inclusive no que tange a experiências importantes para a definição de sua orientação sexual. Esse modelo sugere, portanto, que as experiências formativas, por si só, ser fortemente influenciadas pelas variáveis de personalidade.
A existência de dados biológicos sobre as causas da homossexualidade é compatível com os três modelos. A distinção entre eles aparece na interpretação que diferentes autores dão aos achados mais robustos existentes na literatura até o momento. O primeiro deles é que a propensão a engajar-se em jogos masculinos parece ser influenciada pela exposição pré-natal a hormônios masculinos. O segundo é que, quando comparados com homens heterossexuais, mais homossexuais referem uma aversão a jogos masculinos na infância. O terceiro é que, comparados a heterossexuais, mais homens homossexuais referem que seus pais tinham comportamento distante ou de rejeição. Na interpretação do modelo direto, a aversão da criança a jogos caracteristicamente masculinos representa uma expressão de um arcabouço cerebral previamente programado para o comportamento homossexual. Esta é a posição de Richard Isay, um psicanalista que sugere que fatores biológicos direcionam o cérebro para uma orientação ao mesmo sexo e revertem a polaridade do complexo de Édipo. De acordo com esse modelo, meninos pré-homossexuais são eroticamente interessados por seus pais durante o período edípico. Isay especula que, de fato, na vida adulta, homossexuais masculinos podem recordar seus pais como frios ou distantes como uma forma de defesa contra a tomada de consciência da atração que sentiam por seus pais na infância.
Alternativamente, a interpretação do modelo indireto postula que uma aversão biologicamente determinada a brincadeiras masculinas não necessariamente implica em predisposição à homossexualidade. Ao invés disso, essa aversão se torna um potente fator predisponente ao desenvolvimento de comportamento homossexual em determinados ambientes- talvez em ambientes em que este comportamento seja estigmatizado, levando o menino a perceber-se como diferente de seu pai e dos outros homens . Nesse cenário, a ausência do pai poderia contribuir, mais do que causar, a homossexualidade do filho. Sendo assim, a aversão a jogos masculinos poderia não ter nenhuma contribuição na determinação da orientação sexual em ambientes em que este comportamento fosse plenamente aceito.Baseado no modelo indireto, pode-se conjecturar que um sem número de variáveis biológicas influenciam diversas características de personalidade que podem predispor à homossexualidade em uma ambiente e heterossexualidade em outro.

Pesquisa de fatores neuroendócrinos
Historicamente, grande parte da pesquisa biológica baseou-se na premissa de que homens gays e lésbicas eram, de alguma maneira, constitucionalmente intermediários entre seus congêneres heterossexuais. Este pressuposto levou à investigação de vários atributos físicos, como genitália, proporção do esqueleto, pêlos faciais e cromossomos. Entre os anos 50 e 70, uma quantidade considerável de estudos examinou o sistema endócrino de homossexuais à procura de níveis atípicos de hormônios sexuais em gays e lésbicas. A esmagadora maioria dos estudos não demonstrou nenhuma diferença.
Hipótese Hormonal Pré-natal:
Esta hipótese é correntemente o maior foco de pesquisa na biologia da homossexualidade. Ela postula que os cérebros de homens e mulheres diferem estruturalmente e que estas diferenças resultam de influências hormonais precoces no feto em desenvolvimento. Esta perspectiva também vê a orientação sexual como um derivado de um processo desenvolvimental hormonalmente influenciado levando à diferenciação sexual do cérebro. Esta é, ocasionalmente referida como hipótese intersexual da homossexualidade. Esta hipótese baseia-se em observações feitas em roedores em que os padrões de posturas no coito são fortemente influenciados pela quantidade de hormônios androgênicos a que os animas são expostos na vida intra-uterina, durante o período de diferenciação de algumas estruturas cerebrais. Porém, segue sendo problemática a extrapolação de dados de roedores para os seres humanos. Enquanto que, nos ratos, a definição de orientação sexual é feita pela aquisição de determinados comportamentos e posturas, no homem é feita de forma absurdamente mais complexa, por um padrão de responsividade e preferência erótica de parceiros do mesmo sexo.

Orientação sexual após exposição pré-natal a hormônios em humanos
Eticamente, é impossível expôr propositalmente fetos a níveis suprafisiológicos de hormônios sexuais. Porém, é possível avaliar a orientação sexual de indivíduos sabidamente expostos a estes hormônios. De fato, ao rever-se os estudos a respeito de deficiência androgênica em fetos masculinos em formação e exposição excessiva a androgênios em fetos masculinos, o que se verifica é uma grande dificuldade na interpretação dos resultados. Hormônios podem, sim, dificultar a diferenciação sexual e produzirem diferentes graus de genitália ambígua, porém, no que se refere à orientação sexual a avaliação é muito mais difícil. Estes indivíduos freqüentemente são submetidos a uma ou mais cirurgias visando corrigir a ambigüidade genital que, mesmo que feitas precocemente, podem deixar marcas ou cicatrizes que venham a ser fonte de preocupação para o indivíduo. Além disso, os pais podem seguir tratando a criança de maneira ambíguas.
Características antropométricas:
Diversos estudos têm sido realizados a partir da suposição de que indivíduos homossexuais possuem determinadas características físicas que são intermediárias entre homens e mulheres heterossexuais. Estas características incluem não apenas peso e altura, mas também a quantidade e distribuição de pêlos faciais, relação cintura/quadril, o tamanho da genitália e, mais recentemente relação entre o tamanho dos dedos das mãos e características dos dermatóglifos. Nenhum desses estudos produziu resultados definitivos.
Recentemente, o estudo BBC Internet Research Program encontrou uma associação fraca entre ser canhoto ou ambidestro e estar entre os irmãos mais velhos na ordem do nascimento com homossexualidae masculina e feminina.

Dismorfismo sexual neuroanatômico:
Desde o início dos anos 80, os pesquisadores do comportamento sexual animas t6em descrito diferenças entre os sexos na morfologia e função em algumas áreas do hipotálamo relacionadas a comportamento sexual dismórfico. Foi demonstrado que esta área se diferencia a partir da exposição precoce a androgênios. A área mais implicada foi o núcleo sexualmente dismórfico pré-ótico, que é de 5 a 8 vezes maiôs no cérebro de ratos machos e que, quando estimulado, produz aumento no comportamento de montar na cópula. Alguns estudos sugerem que um mecanismo análogo pode ocorrer no cérebro humano, com uma área semelhante estando com tamanho diminuído em homens homossexuais.
Pesquisa Genética
Estudos de pedigree: Alguns estudos têm sido direcionados para a comparação da taxa de concordância de orientação homossexual entre gêmeos monozigóticos e dizigóticos. De fato, em gêmeos idênticos a concordância para homossexulidade masculina é de 52% e, em fraternos, é de 22%. Assumindo-se que as influências ambientais seriam as mesmas para os dois tipos de pares de gêmeos, estes resultados são consistentes com a existência de um componente genético. Alguns autores costumam usar, também, a semelhança entre diferentes características corporais entre irmãos e a concordância em relação à orientação sexual, ou seja, quanto mais semelhantes morfologicamente os irmãos são, maior o compartilhamento de material genético e, portanto, maior a concordância em relação à homossexualidade. Estes autores não comentam porém, como levar-se em conta, neste tipo de raciocínio, todos os genes que, por não codificarem características físicas, não são levados em conta nesse tipo de análise.
Estudos de ligação: Não existem evidências que suportem uma associação simples e direta entre um gene e um fenômeno psicológico tão complexo como a homossexualidade. Um estudo publicado em 1993 associava uma mutação no cromossomo X na região q28 a comportamento homossexual masculino e obteve grande publicidade na imprensa leiga. Posteriormente, porém, os resultados não foram confirmados em estudos mais robustos.


Estudos Transculturais
Os estudos antropológicos da sexualidade humana têm demonstrado uma variação enorme na organização sexual e de gênero e no comportamento sexual em diferentes culturas. Um dos pesquisadores que mais se dedicam ao estudo transcultural da homossexualidade é Gilbert Herdt, em especial a partir da descrição de comportamentos homossexuais ritualizados em integrantes da tribo Sambia, em Papua Nova Guiné. Herdt desenvolveu um modelo de que o desenvolvimento sexual ocorre de três possíveis maneiras, no que tange à sua dimensão social:
Desenvolvimento linear: comportamento sexual que ocorre sem modificação significativa da orientação sexual ao longo da vida.
Desenvolvimento seqüencial: padrão de comportamento que incorpora mudanças importantes de orientação sexual ao longo da vida.
Desenvolvimento emergente: padrão em que algum grau de ambigüidade na orientação sexual permanece durante diferentes fases da vida.
Herdt também descreveu uma tipologia da homossexualidade baseada na organização transcultural do comportamento homossexual. O primeiro tipo seria a homossexualidade idade-estruturada, usualmente envolvendo homens mais jovens e mais velhos e geralmente incluindo um padrão seqüencial de prática sexual com o mesmo sexo na infância e adolescência e evoluindo para a heterossexualidade na vida adulta. Um exemplo disso é o padrão de relacionamento homossexual masculino na Grécia antiga. Uma segunda forma de homossexualidade seria a homossexualidade de reversão de gênero, em que há um direcionamento para o comportamento do outro gênero. Isso ocorre na tribo indígena norte-americana Berdache, em que os homens podem assumir o papel feminino e terem atividade homossexual. O terceiro tipo identificado por Herdt é a homossexualidade de papel especializado, em que a atividade homossexual é restrita a alguns papéis e posições sociais. Este tipo ocorre entre xamãs e pagés e entre as mulheres chinesas do século XIX. Por fim, Herdt particulariza, também, o movimento gay moderno, como um quarto tipo de organização social homossexual.
Os estudos transculturais ampliam os limites de qualquer explicação única para a homossexualidade. Há imensas variações na organização e no significado das práticas sexuais com pessoas do mesmo sexo em diferentes culturas. Possivelmente, estudos transculturais futuros elucidarão o papel de fatores sociais, como a industrialização, urbanização, religião e classe social, que, sem dúvida, influenciam a forma pela qual o desejo e o comportamento sexual se delineiam em diferentes culturas.

Modelos Psicanalíticos

"É impossível afirmar que Freud estava certo ou errado, pois ele
sempre está as duas coisas."
Steven Marcus

A psicanálise clássica situa o desenvolvimento da heterossexualidade no fenômeno denominado por Freud de complexo de Édipo. A partir dos três anos de idade, a criança enfoca mais intensamente seus genitais como fonte de prazer. Acompanhando esse interesse, há um anseio intensificado de ser o objeto exclusivo de amor da figura parental do sexo oposto. Nesse momento, o referencial de relacionamento diádico mãe-criança altera-se para um padrão triangular, onde a criança identifica um rival a disputar afeto do genitor do sexo oposto. No caso do menino, o primeiro objeto de afeto é a mãe, não requerendo um desvio de sua afeição. Ele deseja dormir com ela, acariciá-la e ser o centro do seu mundo. Como o pai interfere nos seus planos, a criança desenvolve desejos assassinos direcionados ao seu rival. Esses desejos resultam em culpa, medo da retaliação pelo pai e ansiedade frente a esta retaliação iminente. Freud repetidamente observou que a principal fonte de ansiedade durante esta fase do desenvolvimento é que a retaliação paterna venha na forma de castração. A fim de impedir tal punição, o menino renuncia a esta disputa sexual por sua mãe e identifica-se com seu pai. Essa identificação faz com que o menino resolva buscar uma mulher como sua mãe para ser como o seu pai.
Freud apresentou mais dificuldade para explicar o desenvolvimento edípico na menina. Uma das formas que ele utilizou foi supor que o desenvolvimento feminino seja basicamente análogo ao masculino. Conforme a visão de Freud, enquanto que, nos meninos, o complexo de Édipo resolvia-se através do medo da castração, nas meninas ele era iniciado pela consciência de uma suposta castração inata (a menina interpretaria a ausência do pênis nela mesma como castração). Nesse momento, a menina se voltaria para o pai, elegendo-o como objeto de amor e desejando ter um filho seu, a fim de substituir seu anseio de possuir um pênis.
Em seu trabalho "Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade", Freud denomina a homossexualidade de "inversão". Os graus de inversão foram analisados e de maneira geral separados em 3 grupos:
1- invertidos absolutos os quais nunca tiveram como objeto de anseio sexual alguém do sexo oposto,pelo contrário,podem até ter aversão sexual ao sexo oposto;(em sua forma mais extrema pode se supor regularmente que a inversão existiu desde época muito prematura e que a pessoa encontra se em consonância com sua peculiaridade.)
2- invertidos anfígenos aos quais falta à inversão o caráter de exclusividade;
3- invertidos ocasionais que em determinadas situações podem tomar como objeto sexual pessoas do mesmo sexo e terem satisfação com elas.
As relações temporais também foram analisadas e foi observada ampla variabilidade:

”.Esse traço pode vir desde sempre,conforme o indivíduo pode lembrar ou ter se feito notar mais tarde,antes ou após a puberdade.Pode perdurar por toda a vida ,ser suspenso ou até mesmo constituir um episódio no caminho do desenvolvimento normal.Acontece também da inversão exteriorizar se mais tarde após um longo período de atividade sexual normal.(muitas vezes após uma experiência penosa com um objeto sexual normal.)”.

Freud não considerou a homossexualidade como doença, e apontou a ocorrência da inversão em pessoas que inclusive se destacavam por um desenvolvimento intelectual e uma cultura ética elevados. Essas pessoas poderiam comportar-se normalmente em todas as outras situações da vida, ou seja, essas pessoas não necessariamente apresentavam evidências de conflito intrapsíquico. Além disso, avaliou que em muitos povos antigos, a inversão foi inclusive uma instituição dotada de importantes funções. Freud demonstrou, também, influências facilitadoras ou inibidoras que levavam a fixação da inversão, tais como relacionamento exclusivos com o mesmo sexo,companheirismo na guerra,detenção em presídios, riscos da relação heterossexual, celibato, fraqueza sexual, etc.
Para Freud nem a hipótese de que a inversão é inata nem tampouco adquirida explicavam a sua natureza:
”No primeiro caso é preciso dizer o que há nela de inato,para que não se concorde com a explicação rudimentar de que a pessoa traz consigo,em caráter inato o vínculo da pulsão sexual com determinado objeto sexual.No outro caso cabe perguntar se as múltiplas influencias acidentais bastariam para explicar a aquisição da inversão sem necessidade de que algo no indivíduo fosse ao encontro delas."

Para Freud um componente homossexual pode ser registrado no desenvolvimento de todos os seres humanos. Ele acreditava em uma bissexualidade constitucional, presente em todos os indivíduos e preferências por atividades homossexuais na vida adulta resultavam do que ele denominou “fixação” ou suspensão do desenvolvimento do instinto sexual nessa etapa .Portanto, a homossexualidade seria uma manifestação de imaturidade sexual. Embora a bissexualidade seja universal, Freud acreditava que algumas pessoas eram mais propensas do que outras a apresentarem comportamento homossexual. Ele acreditava que experiências de vida, particularmente as traumáticas poderiam ter impacto na expressão de instintos inatos.
Quanto à possível prevenção da inversão, Freud acreditava que adolescentes teriam amizades apaixonadas por pessoas do mesmo sexo e a força que repele a inversão permanente do objeto sexual seria a atração sexual que os caracteres sexuais opostos exercem entre si. Mas esse fator não basta. Acima de tudo, há o entrave autoritário da sociedade. Quando a inversão não é considerada um crime, vê-se que ela aparece com mais freqüência. No tocante ao homem, suas lembranças do amor materno ou de outras figuras femininas que o cuidavam contribuem para uma futura escolha de um objeto do sexo feminino, ao passo que a intimidação sexual precoce que experimentou por parte de seu pai e sua atitude competitiva em relação a ele o desviam de uma escolha de um objeto do sexo masculino. Nas meninas o fato da atividade sexual ficar sobre a guarda especial da mãe geraria uma relação hostil com o mesmo sexo que influencia decisivamente a escolha do objeto no sentido considerado normal.
Além disso, a educação dos meninos por pessoas do sexo masculino (escravos, na antiguidade), parece favorecer a homossexualidade. Em muitos histéricos vê-se que a ausência precoce de um dos pais pode determinar o sexo do objeto a ser escolhido, de acordo com o sexo do genitor que absorveu todo o amor da criança.
Wilhelm Stekel, em sua obra "Amor Bissexual" refere que as pessoas têm originalmente predisposições bissexuais .Os heterossexuais reprimem na puberdade sua homossexualidade, sublimam parte de suas inclinações homossexuais em amizade, nacionalismo, obras de cunho social, etc. Se essa sublimação falha, a pessoa se torna neurótica. Quando a heterossexualidade é reprimida, a homossexualidade prevalece. No caso do homossexual, a heterossexualidade reprimida e parcialmente superada estabelece a disposição neurótica. Quanto mais fortemente a heterossexualidade for sublimada, maior será a semelhança apresentada pelo homossexual a indivíduos normais.Para ele não há homossexualidade nata, nem heterossexualidade nata. Há somente bissexualidade.
Após a morte de Freud, ganhou um importante espaço na psicanálise, a teoria de Sandor Rado, especialmente na década de 40. Este autor considerava a homossexualidade como doença, especificamente como uma evitação fóbica do sexo oposto, causada por proibições parentais da expressão sexual da criança. Isto levou alguns psicanalistas a acreditarem que eles poderiam e deveriam curar a homossexualidade.
A psicanálise contemporânea expandiu-se no estudo da sexualidade. Alguns psicanalistas carregam em si resquícios desses dois modelos teóricos (homossexualidade como imaturidade e homossexualidade como doença), mas, cada vez mais, observa-se a incorporação dos conhecimentos da biologia e, também, uma maior interface da psique com a cultura.

Tabela 1. Explicações psicanalíticas para a homossexualidade.

Interrupção do desenvolvimento psicossexual
Medo da castração
Medo do engolfamento materno na fase pré-edipica
Forte fixação na mãe
Ausência de um pai efetivo
Inibição do desenvolvimento pelos pais
Regressão a um estágio narcisista do desenvolvimento
Perdas em competições com irmãos e irmãs
Falta de resolução da inveja do pênis (mulheres)


Modelos Psicossociais
Ao contrário das teorias psicanalíticas, que localizam na infância a origem da orientação sexual, outros modelos psicossociais foram desenvolvidos a partira da segunda metade do século XX, contemplando os efeitos que as modificações físicas, cognitivas e emocionais exercem sobre a orientação sexual ao longo de todo o ciclo vital. Autores da tradição de Kinsey descrevem como sendo importantes na infância não apenas os fatores classicamente estudados na psicanálise, como o trauma ou as perturbações na relação familiar, mas outros, como, por exemplo um senso de ser diferente. Estudos demonstraram que, a inconformidade precoce com o gênero e que o “sentir-se diferente” na infância são mais comuns em adultos homossexuais do que nos heterossexuais, podendo ser preditores de orientação para o mesmo sexo.
Uma outra discussão que, cada vez mais ocupa espaço na sociedade contemporânea, é a relacionada à aquisição da identidade gay ou lésbica.
Sabe-se que não há uma concordância absoluta em relação à identidade sexual declarada e o comportamento sexual, ou seja, um homem pode reconhecer-se como heterossexual e, ainda assim, ter relações sexuais exclusivamente com outros homens. Pathela e colaboradores demonstraram, inclusive, que, quando comparados a homens que faziam sexo com homens e que se declaravam gays, este grupo tinha menos probabilidade de ter sido testado para HIV e menos probabilidade de fazer uso de preservativo, fazendo com que o foco da equipe de saúde necessariamente se deslocasse da orientação sexual declarada e passasse a direcionar-se para o comportamento.
Embora o comportamento homossexual, sem dúvida, tenha sempre existido, o auto-conceito de ser homossexual é relativamente novo. Embora os termos "revelar-se" ou "sair do armário" refira-se ao conhecimento público da homossexualidade de alguém, há um revelar-se interior análogo. A construção ou a descoberta da identidade homossexual ainda é pouco estudada, mas é de importância crucial para o entendimento do individuo e da sociedade.

Conclusões


O comportamento homossexual, a definição da identidade gay ou lésbica e a elucidação sobre as causas da homossexualidade ainda são grandes enigmas na sociedade moderna. É importante lembrar, também, que o conhecimento sobre o desenvolvimento da própria heterossexualidade também é incipiente. Ethel Person declara:
"…a exigência de sexólogos e psicanalistas de que uma explicação etiológica seja fornecida para a homossexualidade, mas não para a heterossexualidade, não faz sentido...já temos uma noção mais completa do sexo biológico e de gênero, da mesma forma, reclamamos uma teoria de sexualidade que seja mais complexa do que a que existe atualmente."

BIBLIOGRAFIA:

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www.biblionline.com.br

www.portaldasexualidade.com.br

autores: Cláudia Vazquez, Chrislaine, Elisa Brietzke, João Antônio Rodrigues Júnior, Patrícia Schaefer Thomazelli
2007

segunda-feira, 22 de março de 2010

Será a felicidade necessária ??

Felicidade é uma palavra pesada. Alegria é leve, mas felicidade é pesada. Diante da pergunta "você é feliz?", os dois fardos são lançados às costas do inquirido. O primeiro é procurar uma definição para felicidade, o que equivale a rastrear uma escala que pode ir da simples satisfação de gozar de boa saúde até a conquista da bem-aventurança. O segundo é examinar-se, em busca de uma resposta. Nesse processo, depara-se com armadilhas. Caso se tenha ganhado um aumento no emprego no dia anterior, o mundo parecerá belo e justo; caso se esteja com dor de dente, parecerá feio e perverso. Mas a dor de dente vai passar assim como a euforia pelo aumento de salário, e se há algo imprescindivél na difícil conceituação de felicidade, é o caráter de permanência. Uma resposta consequentemente exige colocar na balança a experiencia passada, o estado presente e a expectativa futura. dá trabalho, e a conclusão pode nao ser clara.

Os pais de hoje costumam dizer que importante é que os filhos sejam felizes. É uma tendência que se impôs ao influxo das teses libertárias dos anos 1960. É irrelevante que entrem na faculdade, que ganhem muito e pouco dinheiro, que sejam bem-sucedidos na profissão. O que espero, eis a resposta correta, é que sejam felizes. Ora a felicidade é uma coisa grandiosa. É esperar, no mínimo, que o filho sinta prazer nas pequenas coisas da vida. Se ainda for pouco, que atinja o enlevo místico dos santos. Não dá para preencheer caderno de encargos mais cruel para a pobre criança.




"É a felicidade necessária?" é a chamada de capa da última revista New Yorker ( 22 de março) para um artigo, que assinado por Elizabeth Kolbert, analisa livros recentes sobre o tema. No caso, a ênfase está nas pesquisas sobre a felicidade ( ou sobre "satisfação", como mais modestamente às vezes são chamadas) e no impacto que exercem, ou deveriam exercer, nas políticas públicas. Um dos livros analisados, de autoria do ex-presidente de Harvard Derek Bok ( The Politics of Happines: What Government Can Learn From the New Research on Well-Being), constata que nos ultimos 35 anos o PIB per capita dos americanos aumentou de 17 000 dólares para 27 000, o tamanho médio das casas cresceu 50% e as famílias que possuem computador saltaram de zero para 70% do total. No entanto, a porcentagem dos que se consideram felizes não se moveu. Conclusão do autor, de lógica irrefutável e alcance revolucionário: se o crescimento econômico não contribui para o aumentar a felicidade, "por que trabalhar tanto, arriscando desastres ambientais para continuar dobrando e redobrando o PIB?"
Outro livro, de autoria de Carol Graham, da Universidade de Maryland (Happines aroud the Word: the Paradox of happy Peasants ans Miserable Millionaires), informa que os nigerianos, com seus 1 400 dólares de PIB per capita, atribuem-se grau de felicidade equivalente aos do japoneses, com PIB per capita 25 vezes maior, eque os habitantes de Bangladesh se consideram duas vezes mais felizes que os da Rússia, quatro vezes mais ricos. Surpresa das surpresas, os afegãos atribuem-se bom nível de felicidade, e a felicidade é maior nas áreas dominadas pelo Talibã. Os dois livros vão na mesma direção das conclusões de um relatório, também citado no artigo da New Yorker, preparado para o goveno francês por dois detentores do prêmio Nobel de Economia, Amartya Sen e Joseph Stigliz. Como exemplo de que PIB e felicidade não caminham juntos, eles evocam os congestionamentos de trânsito, "que podem aumentar o PIB, em decorrência do aumento do uso de gasolina, mas não a qualidade de vida".

Embora embaladas com números e linguagem científica, tais conclusões apenas repisariam o pedestre conceito de que dinheiro não traz felicidade, não fosse que ambicionam influir na formulação das políticas públicas. O propósito é convidar os governantes a afinar seu foco, se têm em vista o bem-estar dos governos (e podem eles ter em vista algo mais relevante?). Derek Bok, o autor do primeiro dos livros, acpnselha ao governo americano programas como estender o alcance do seguro-desemprego ( as pesquisas apontam a perda de emprego como maus causadora de infelicidade do que o divórcio), facilitar o acesso a medicamentos contra a dor e a tratamentos da depressão e proporcionar atividades esportivas para as crianças. Bok desce ao mesmo nível terra a terra da mãe que trocasse o grandioso desejo de felicidade pelo de uma boa faculdade e um bom salário para o filho.
fonte: Roberto Pompeu de Toledo -Revista Veja, ed 2157 - ano43 - N 12 / p 142

domingo, 21 de março de 2010

Botox altera expressões faciais e influencia sentimentos


O rosto parece comunicar nosso estado mental não apenas para os outros, mas também para nós mesmos






Franzimos o rosto quando estamos tristes. Sorrimos porque estamos felizes. Mas pode a relação causa-efeito ocorrer na direção inversa? Ou seja: adotar uma expressão de alegria influenciaria nossos sentimentos a ponto de nos deixar mais contentes? Estudos recentes em pessoas que receberam injeções de botox sugerem que nossas emoções são reforçadas – e até mesmo dirigidas – por expressões correspondentes. O naturalista Charles Darwin (1809-1882) foi o primeiro a levantar, em 1872, a ideia de que respostas emocionais influenciam nossos sentimentos. “A expressão livre de sinais externos de uma emoção é capaz de intensificá-la”, escreveu. O psicólogo francês William James (1898-1944) chegou a afirmar que, se uma pessoa não expressou uma emoção, ela não a sentiu de fato. Embora atualmente poucos cientistas concordem com essa afirmação, existem evidências de que os sentimentos envolvem mais que o cérebro. O rosto, em particular, parece ter um papel fundamental nesse processo.Psicólogos da Universidade de Cardiff, no País de Gales, descobriram que pessoas que tiveram a capacidade de franzir o rosto comprometida por injeções cosméticas de botox se consideram, em geral, mais felizes do eram antes. Os pesquisadores aplicaram um teste de ansiedade e depressão em 25 voluntárias – metade das que haviam recebido injeções de botox, disseram se sentir-se, de forma geral, mais felizes e menos ansiosas. E mais importante: a maioria disse que se sentia mais atraente (embora esse tenha sido o objetivo quando se submeteram ao tratamento estético), o que sugere que os efeitos emocionais não estavam ligados ao reforço psicológico que poderia surgir com um procedimento estético. “Parece que a forma de sentir não está apenas restrita ao cérebro – existem partes do corpo que podem ajudar e reforçar as emoções”, diz Michael Lewis, um dos autores do estudo. “É como um círculo vicioso.”Em um experimento realizado na Universidade Técnica de Monique, na Alemanha, cientistas avaliaram pessoas que receberam botox com ressonância magnética funcional enquanto pediam a elas que fizessem cara de irritação. Eles descobriram que os indivíduos com botox tinham muito menos atividade nos circuitos cerebrais envolvidos no processamento e respostas emocionais – a amígdala, o hipotálamo e partes do tronco cerebral – quando comparados com voluntários do grupo de controle que não haviam passado por nenhuma intervenção. O conceito também funciona de maneira oposta – aumentando as emoções em vez de suprimi-las. De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Pain, pessoas que franzem o rosto durante um procedimento doloroso relatam ter sentido mais dor do que as outras.Os pesquisadores aplicaram calor ao antebraço de 29 participantes, que deveriam fazer cara triste, neutra ou relaxada durante o procedimento. Os que exibiram expressões negativas relataram ter passado por mais dor do que os outros dois grupos. Lewis, que não estava envolvido nesse teste diz que planeja estudar o efeito das injeções de botox na percepção da dor. “É possível que as pessoas sintam menos dor, se não podem expressá-la.” Mas todos nós ouvimos dizer que é ruim reprimir os sentimentos – então, o que acontece se alguém intencionalmente suprime as emoções negativas de maneira constante? Um trabalho realizado pela psicóloga Judith Grob, da Universidade de Groningen, na Holanda, sugere que essa negatividade suprimida pode vazar para outra esfera da vida. Em uma série de estudos realizados para sua tese de pós-doutorado, já submetidos para publicação, ela pediu a participantes que olhassem para imagens repugnantes; um grupo deveria esconder as emoções, outro, segurar uma caneta na boca para evitar franzir o rosto; um terceiro grupo podia reagir como quisesse.Como esperado, os indivíduos nos dois grupos que não expressaram as emoções disseram, posteriormente, ter sentido menos nojo do que o grupo controle. Em seguida, Grob deu a todos uma série de testes cognitivos, incluindo exercícios para preencher espaços em branco. Ela descobriu que os participantes que reprimiram as emoções tiveram desempenho pior em testes de memória e de completar palavras – eles completaram, por exemplo, “gr_ss” com “gross” (expressão de nojo em inglês), em vez de “grass” (grama, em inglês). “As pessoas que tendem a fazer isso regularmente podem começar a ver o mundo de maneira mais negativa”, afirma a psicóloga. “Quando a face não ajuda a expressar uma emoção, esse sentimento busca outros canais para se expressar.”Ninguém sabe ainda por que nossas expressões faciais influenciam nossas emoções, como parece acontecer. Em nossa mente, associações entre sentimentos e reações podem ser tão fortes que as expressões acabam reforçando nossas emoções – e pode não haver uma razão evolutiva para essa conexão. Ainda assim, nosso rosto parece comunicar nossos estados mentais não apenas para os outros, mas também para nós mesmos. “Eu sorrio, logo devo estar feliz”, diz Grob.
fonte: revista mente e cerébro - edição 206 - Março 2010

domingo, 14 de março de 2010

Arte Perturbadora - "viagem a alma"



Arte Perturbadora

Jovens, geralmente turistas europeus de nível cultural e com grande sensibilidade estética, quase sempre solteiros ou viajantes solitários, são características “das vítimas”da síndrome de Stendhal, que manifesta se como angustia, confusão mental e senso de desagregação. Esse mal estar é deflagrado pelas obras de arte, particularmente as do período renascentista, ou simplesmente a atmosfera típica de cidades históricas como Florença e Roma, na Itália. Tal transtorno foi identificado pela psiquiatra e psicanalista Graziella Magherini, no período que atendia no serviço de saúde mental do hospital de Santa Maria Nova, em Florença.
Os elementos comuns identificados nas pessoas eram a grande sensibilidade emocional, contato com obras de arte e viagem a um país estrangeiro.
O nome escolhido foi inspirado no escritor Frances Stendhal ( 1783-1842) que descreveu em seu diário o transtorno emocional vivido numa visita á basílica da Santa Cruz, em Florença – “atingi aquele nível de emoção onde se encontram as sensações celestes oferecidas pela arte e pelos sentimentos de paixão. Saindo da Santa Cruz, tive uma palpitação no coração, a vida para mim tornou-se árida, eu caminhava temendo cair” – como Stendhal registrou no seu diário após ter admirado os monumentos fúnebres de Vittorio, Alfieri Michelangelo e Galileu na basílica da Santa Cruz.


O espectro dos sintomas é bem variado: algumas pessoas sofrem com alucinações e alteração da sensopercepção, outras manifestam desequilíbrio afetivo ou depressão; angústia e ataques de pânico.


Os cuidados a esses pacientes limitam-se a um breve tratameto que permitisse o retorno ao país de origem com a esperança de que o problema fosse um alrme que a levasse a reconsiderar seu proprio sofrimento e a buscar acompanhamento psicologico.


Esses espisódios de "mal estar" não costumam ter consequencias mais graves, necessitanto um pouco de repouso, proximidade com algo familiar e a prescriçao de medicamentos leves, segundo indica a psiquiatra Graziella.


Segundo a psiquiatra de Florença, uma viagem a um lugar rico em obras de arte pode ser considerada uma "viagem da alma", capaz de revelar uma trama de emoções e sentimentos na qual a identidade do contemplador é colocada a prova.
fonte: revista mente e cérebro, ano XIV, n 165, p 85